sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Richa desconhece o diálogo

A colunista da Gazeta do Povo Rosana Félix escreveu no último sábado o texto que considero o mais importante sobre o governo de Beto Richa (PSDB) até o momento.
Fonte: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

                                             Assembleia reviveu dias da privatização da Copel.
 A repórter mostra que, apesar de falar o tempo todo em diálogo, a atual administração parece estar pouco se importando com a opinião da sociedade civil sobre seus atos.

No fundo, richa usou um expediente comum em várias Casas legislativas. Passou o trator. O rolo compressor. Ou outra metáfora do tipo.
Mesmo com a Casa invadida, com protestos populares, o presidente da Assembleia, Valdir Rossoni (PSDB), aliado de primeira hora de Richa, tocou em frente. Fez passar o projeto do governador.
Acabou revivendo os últimos dias da gestão de Jaime Lerner, quando a sessão teve o mesmo nível de tumulto, igualmente para passar para frente ativos do estado.
Naquela época, era a Copel. Hoje, ninguém sabe ao certo o que está em jogo. Dizem que seria a contratação dos músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná e mais dois projetos.
Alguém aí, porém, acredita que Richa e Rossoni passariam por tudo aquilo só por um motivo desse?

Leia na íntegra o texto da colunista da Gazeta do Povo:

Fonte: Rosana Félix

A gestão de Beto Richa (PSDB) gosta muito de dizer que o “diálogo é a marca deste governo”, mas essa é só uma frase de efeito. Além de conversar de forma amistosa com outros governantes, como a presidente Dilma Rousseff e ministros, o tucano só se deu ao trabalho de falar diretamente com seus aliados, com empresários e concessionárias de pedágio. Faltou o mais importante: dialogar com o cidadão e com a sociedade civil organizada.
O tratamento dispensado pelo tucano à iniciativa privada foi muito melhor do que o praticado pelo antecessor, Roberto Requião (PMDB). E isso é ótimo, desde que o interesse público seja sempre o fio condutor dessas conversas.
O cidadão se mostra satisfeito com o governo, e Richa é bem avaliado pela população. Mas as pessoas nem sabem o motivo disso. Em uma pesquisa divulgada pela Gazeta do Povo em 12 de setembro, 63% não sabiam citar uma realização do governador. De lá para cá, uma das “realizações” que gerou mais repercussão – pelo menos entre os leitores deste jornal – foi o tarifaço do Detran, que elevou em até 271% os valores das taxas pagas pelos motoristas.
O argumento para defender esse aumento foi que o dinheiro extra seria aplicado em segurança. Quem disse isso foram os deputados aliados, pois Richa não fala dos projetos em trâmite na Assembleia. Só os encaminha com pedido de urgência e age para que sejam votados o mais rápido possível.
Isso aconteceu com o projeto do tarifaço do Detran. O governador encaminhou a mensagem no dia 31 de outubro. Em 7 de novembro o projeto foi aprovado. Nesta semana a oposição questionou o valor destinado à segurança pública em 2012. Não se sabe ao certo, pois o governo não fala a respeito.

Organizações sociais
No dia 23 deste mês, o governo encaminhou à Assembleia outro projeto polêmico, que repassa a organizações não governamentais a gestão de alguns serviços públicos, como os de saúde, cultura, assistência social e esportes. Somente ficam de fora educação e segurança.
Este é um assunto bastante complexo. Fora o fato de as ONGs estarem no meio de nove de cada dez escândalos políticos do país, a terceirização de serviços públicos precisa ser debatida com profundidade. Especialistas dizem que o repasse da gestão a organizações sociais (OSs) têm pontos positivos, mas os contratos precisam ser bem amarrados, para evitar desperdício do dinheiro público. A fiscalização também é peça-chave nesse modelo.
Apesar dessa complexidade, Richa não quer falar sobre o projeto. A tentativa foi de aprová-lo em tempo recorde, em seis dias. A oposição conseguiu evitar a votação na última terça-feira. Mas, certamente, o texto será aprovado pela ampla maioria que o governador tem na Casa.
Tudo bem que o governo se valha de sua base para aprovar os projetos de seu interesse. Mas é muita prepotência achar que o texto não poderia ser melhorado com sugestões colhidas em uma audiência pública, por exemplo. O Ministério Público, representantes de conselhos de cultura e saúde, entre tantos outros, poderiam dar contribuições valiosas.
Na verdade, Richa segue a mesma cartilha que qualquer governador. Quer pressa para resolver assuntos que possam causar repercussão negativa. No caso das OSs, entretanto, o tucano exagerou. A Assembleia do Rio de Janeiro aprovou uma lei semelhante em 13 de setembro. O texto foi encaminhado com regime de urgência, mas ficou em discussão por 29 dias. Houve muito tumulto e resistência de servidores, mas isso não foi desculpa para acelerar a tramitação. Em Santa Catarina, foram 157 dias de discussão em 2004.
Dialogar, segundo o dicionário, é trocar opiniões, “com alternância dos papéis de falante e ouvinte”. Ou o governo para de falar que preza pelo diálogo ou, com humildade e grandeza, dá voz à sociedade.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Saída de Lupi cria ‘jogo de xadrez’ antes de reforma

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    Fonte: odiario.com
    Saída de Lupi cria ‘jogo de xadrez’ antes de reforma
Excluído do governo sem honras, o ex-ministro Carlos Lupi foi forçado pelo PDT a um exílio para não atrapalhar as negociações do partido com o Palácio do Planalto sobre a ocupação de cargos na Esplanada. Lupi deixou a pasta no domingo, após uma avalanche de denúncias, e vai continuar licenciado da presidência do partido pelo menos até janeiro de 2012. Até lá, o PDT espera ter resolvido o impasse relativo ao espaço que caberá à legenda no latifúndio governista.

A saída de Lupi no domingo mexeu no xadrez ministerial. Dilma não quer que o PDT continue à frente do Trabalho. Alega que o partido está há muito tempo no comando da Pasta - desde 2007, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva - e prega mudanças. A estratégia adotada pela cúpula do PDT, no entanto, tem como objetivo permanecer no Trabalho. Apesar do discurso oficial de cautela, na prática o PDT vai brigar com o PT para não perder a cadeira durante a reforma ministerial prevista para 2012.

Presidente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) desdenhou da possibilidade de emplacar o ex-senador Osmar Dias, filiado ao PDT, no Ministério da Agricultura, que também pode abrigar Pesca.
"Não sabemos nada de mexer com terra", ironizou Paulinho, como é conhecido. O deputado também serviu como porta-voz da crítica do PDT a um estudo do governo para fundir Trabalho com Previdência. "Seria um desastre, para um governo que se diz dos trabalhadores, fazer uma coisa dessas", provocou.

Auxiliares de Dilma disseram que nenhuma fusão de pastas está decidida. Mesmo assim, aliados já estão de olho nos cargos. O PMDB, por exemplo, sempre considerou o Ministério da Previdência "um abacaxi" e não parece muito animado em abarcar Trabalho. No Planalto, o comentário é de que o superministério pode ir para o PP, abrindo espaço para o PT em Cidades.


Lupi passou o dia em reuniões com dirigentes do PDT e optou pelo silêncio no primeiro dia fora da Esplanada. Aos correligionários, voltou a afirmar inocência e atribuiu a saída à pressão da família e ao cansaço das seguidas explicações que teve de prestar nas últimas semanas.

Pela manhã, em conversa reservada com o deputado André Figueiredo (CE), presidente interino, Manoel Dias (SC), secretário-geral, e Acir Gurgacz (RO), líder no Senado, Lupi acertou a renovação da licença do comando partidário. A criação de uma comissão para negociar com Dilma também foi construída para blindar o PDT do desgaste provocado pela crise política.

A comissão terá Figueiredo, Dias, Brizola Neto, Gurgacz e o líder na Câmara, Giovanni Queiroz (PA). O presidente interino fez questão de enfatizar que o partido apoia o governo Dilma mesmo sem cargos. A cúpula do PDT, porém, espera um convite da presidente, ainda nesta semana para negociar. A volta de Lupi ao comando do PDT está prevista para o fim de janeiro de 2012, quando um integrante do partido já estiver acomodado na Esplanada. Apesar de o ex-ministro ter mandato até 2013, poderá haver questionamentos no diretório nacional sobre o seu retorno.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Após demissão, Lupi se reúne com ministro interino do Trabalho

 
Fonte: Portal Terra

O ex-ministro do Trabalho, Carlos Lupi (PDT), esteve reunido na manhã desta segunda-feira com o ministro interino Paulo Roberto Pinto, em Brasília. A assessoria de imprensa o ministério confirmou o encontro, mas não soube informar se ele já terminou e qual foi o teor da conversa. Não há compromissos oficiais previstos para o ministro nesta segunda.
Depois do pedido de demissão de Lupi no domingo, a cúpula do PDT marcou um encontro para hoje às 14h na sede do partido em Brasília. A reunião tem como finalidade decidir o futuro do partido no ministério.
A queda de Lupi
O ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi (PDT), pediu demissão no dia 4 de dezembro, cerca de um mês após denúncias de que seus assessores cobrariam propina de organizações não governamentais (ONGs) conveniadas com a pasta e de que teria ocupado cargo-fantasma na Câmara dos Deputados por seis anos. No governo federal desde 2007, Lupi culpou a "perseguição política e pessoal da mídia" por sua saída.
A crise começou no início de novembro, quando a revista Veja publicou que funcionários do ministério estavam envolvidos em um suposto esquema de cobrança de propina de ONGs conveniadas com a pasta comandada pelo ministro. Segundo a publicação, entidades tinham o repasse bloqueado após problemas com a fiscalização. Assessores de Lupi, então, procuravam os dirigentes para resolver o problema cobrando propinas de 5% a 15%. Na ocasião, Lupi disse que irregularidades de funcionários, se existiam, não podiam ser atribuídas a ele, pedindo investigação do caso.
Mas o escândalo se ampliou quando o ministro teve que ir ao Congresso explicar uma viagem no avião do empresário dono da ONG Pró-Cerrado, que tem convênios de R$ 14 milhões com o Trabalho, para cumprir agenda no Maranhão. Inicialmente, o ministro negou conhecer Adair Meira, mas voltou atrás depois de ter fotos divulgadas ao lado dele. Lupi argumentou ter dito apenas que não mantinha "relações pessoais" com Meira.
Na última semana antes de deixar o cargo, o jornal Folha de S. Paulo, denunciou que o ministro foi lotado na liderança do PDT por seis anos, mas no período exerceu atividades partidárias como vice-presidente da sigla. As normas da administração pública dizem que ocupantes desses cargos devem exercer funções técnicas e precisam trabalhar nos gabinetes. Apesar do apoio do partido e da vontade da presidente Dilma Rousseff em não perder mais um ministro para denúncias de corrupção, a permanência de Lupi no comando da pasta se tornou insustentável após a Comissão de Ética Pública aplicar, por unanimidade, uma advertência e recomendar sua demissão.