Após oito meses de investigação, comissão aprovou relatório 'alternativo' de duas páginas que apenas encaminha as conclusões à PF e ao MP; alguns membros da CPI protestaram
A decisão foi possível porque, pouco antes, foi
derrubado o texto de mais de 5 mil páginas do relator e deputado Odair
Cunha (PT-MG). A proposta dele, rejeitada por 20 votos a 11, propunha ao
Ministério Público o indiciamento de 29 pessoas e a responsabilização
de outras 12 por participar ou se envolver criminosamente com a
quadrilha comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos
Cachoeira.
Na lista de indiciados do relator, constavam o governador
de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), o prefeito de Palmas, Raul Filho
(PT), o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB-GO) e o senador
cassado Demóstenes Torres (sem partido-GO). Cunha chegou a ceder,
retirando o pedido de indiciamento de jornalistas e de investigação do
procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Mas a proposta do relator
foi rejeitada na terceira tentativa de votação.
Durante os debates, o deputado Silvio Costa (PTB-PE)
chamou a proposta de Pitiman de "piada" e "brincadeira". "Isso é uma
piada, isso é uma brincadeira, a gente não pode passar por um negócio
desses", disse. O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) disse que é
"ridículo" resumir os milhares de documentos, escutas e extratos
bancários a "duas folhas". "Não podemos ver uma CPI resumida a duas
folhas, isso é ridículo e não é possível que o Congresso vá dar
sustentação a isso", afirmou.
O deputado Armando Vergílio (PSD-GO), por sua vez, saiu
em defesa da proposta apresentada por Pitiman. "Esse voto em separado
reúne condições de expressar o pensamento da CPI para não passarmos em
branco", disse. O senador Pedro Taques (PDT-MT) afirmou que o voto em
separado padecia de eficácia porque propunha, após a conclusão da CPI,
que um grupo de três deputados e dois senadores acompanhasse até 2014 o
andamento das investigações da PF e do MP. Segundo ele, não há previsão
no regimento da Casa para esse tipo de acompanhamento. Após um acordo,
com o aval do próprio Pitiman, suprimiram essa parte do texto.
Para justificar seu parecer, o autor do relatório
vencedor disse que seu texto é muito mais abrangente do que o rejeitado
de Odair Cunha, uma vez que todo o material produzido será remetido para
as investigações da polícia e do MP.
"Em plena festa natalina, este relatório final é uma
presepada", criticou o líder do PPS, Rubens Bueno (PR), após a aprovação
do texto. "Só faltam os lencinhos e o champanhe da Delta", ironizou
Onyx Lorenzoni. "Não me compete aqui ficar tendo sentimentos, o que eu
posso dizer que é lamentável, que, apesar de todo o esforço feito pelos
membros da CPI, por todos nós aqui, diante de provas incontestes da
CPMI, não existe um juízo de valor sobre nada. Ela (CPI) se nega a fazer
aquilo que é a sua missão essencial. Levantar provas, identificar
indícios e apresentar conclusões. As conclusões aqui são nada, um vazio,
uma pizza geral, lamentável", criticou Odair Cunha, ao final da sessão
desta terça.
Na prática, a proposta de Pitiman é muito semelhante à
aprovada no início da reunião desta terça, quando, por unanimidade, foi
aprovado o envio de todo o material bruto das investigações feitas pela
comissão para o Ministério Público Federal em Goiás e à Procuradoria
Geral da República. No pedido anterior, seriam encaminhados todo o
acervo físico e eletrônico de documentos da CPI, bem como os sigilos
bancário, fiscal, telefônico e de dados. No de Pitiman, as conclusões
também vão para a Polícia Federal.
Entenda o caso
Flagrado em gravações telefônicas que indicariam sua
ligação com o grupo de Cachoeira, o ex-senador Demóstenes Torres teve o
mandato cassado. Cachoeira foi preso durante a Operação Monte Carlo, mas
havia sido solto em novembro. Neste mês, ele teve novamente a prisão
decretada, mas foi solto, por decisão do Tribunal Federal da 1ª Região.
O relatório gerou polêmica entre os integrantes da CPI
por pedir o indiciamento de jornalistas e que o procurador-geral da
República, Roberto Gurgel, seja investigado pelo Conselho Nacional do
Ministério Público. Gurgel é questionado por ter esperado a Operação
Monte Carlo, feita em fevereiro deste ano pela Polícia Federal, para
abrir investigação contra Cachoeira e seu grupo, quando uma operação
anterior da PF já havia dado indícios contra o empresário. O
procurador-geral argumentou que sua decisão de esperar permitiu a prisão
do Cachoeira.
Ministério Público
Deputados e senadores já aprovaram por unanimidade nesta
terça-feira que todas as informações apuradas na Comissão sejam
enviadas para o Ministério Público de Goiás
e para a Procuradoria Geral da República. Deste modo, segundo o
deputado Odair Cunha (PT-MG), autor do pedido, "vamos garantir que,
independentemente de nossas conclusões, os órgãos de investigação agora
poderão fazer suas próprias análises, assim eles terão acesso às
informações sigilosas de pessoas com foro privilegiado".
Fonte: Com Agência Estado e Reuters
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